segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Onde ficou o sonho?

Pesquisando no meu baú digital, encontrei o texto que segue. Foi escrito no século XX para sustentar a minha participação num painel sobre "A Geometria nos Programas e as Conexões". Este painel fez parte do segundo Encontro Regional de Professores de Matemática, CoviMat 99, que se realizou no dia 23 de Abril, na Universidade da Beira Interior, na Covilhã. O Encontro foi organizado pelo Núcleo Regional da Covilhã da Associação de Professores de Matemática. O painel foi moderado pelo meu ilustre colega Manuel Saraiva e nele intervieram o Augusto Carvalho, a Cristina Loureiro, a Teresa Colaço e a Isabel Coelho. 
É bom recordar:
 Algumas reflexões sobre o Ensino / Aprendizagem da Geometria e Conexões com outras áreas da Matemática
A Geometria é um ramo privilegiado da Matemática por estar estreitamente ligada à realidade envolvente e à experiência dos alunos, o que permite uma maior facilidade na construção de conceitos, a partir de situações concretas.  As actividades geométricas são inspiradoras de intuições e necessárias na passagem do particular ao abstracto.  Nestas idades (2º e 3º ciclos), é fundamental a criação de situações que favoreçam o raciocínio indutivo, sustentado na formulação e testagem de conjecturas.
Nesta perspectiva, a Geometria será uma das áreas da Matemática que o desenvolvimento das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) tornou mais acessíveis.  Ao referir as TIC estou, essencialmente, a considerar software dinâmico, como o Cabri-Géomètre e o Sketchpad, onde os desenhos adquirem movimento, favorecendo a passagem à figura.  A “geometria do software” possibilita, assim, o desenvolvimento das capacidades de explorar, enunciar e testar hipóteses.
No entanto, a utilização de outros materiais (de uso corrente, Tangram, geoplanos, variados puzzles, instrumentos de medição e desenho, ...;  enfim, um mundo posto à nossa disposição!) é, igualmente, necessária pela manipulação que proporciona e indispensável mesmo nos casos em que as escolas não têm computador ou os têm em número insuficiente.  Não foi por não existirem essas máquinas fabulosas que a Geometria deixou de se desenvolver e de constituir um dos mais importantes ramos da Matemática.  Não é por elas existirem que a Geometria é melhor tratada (?) hoje em dia, apesar da relevância que os actuais programas lhe conferem (aparece em primeiro lugar, a par com os Números e Cálculo).  Manusear, observar, comparar, descobrir, construir, traçar são objectivos importantes que podem ser alcançados através da exploração geométrica.  Mas, não continua esta a ser “deixada para trás”, em muitos casos, pela pressão do cumprimento dos conteúdos programáticos referentes à Aritmética / Álgebra?  No entanto, quantos aspectos geométricos não podem ser abordados / explorados quando se “dá”, por exemplo, as fracções:  rectângulos, círculos, triângulos, ... E a construção de figuras com o Tangram não consolidará o conceito de número fraccionário, pela relação entre a área das diferentes peças, ao mesmo tempo que permite conhecer triângulos e quadriláteros?
Assiste-se assim, frequentemente, a um isolamento da Geometria (e não só) apesar das conexões que permite dentro da própria Matemática e com outros ramos do saber - o rectângulo de ouro na arquitectura, em particular, e na arte, em geral é um dos casos mais badalados;  mas, como o utilizamos nós, professores de Matemática?
Comecei por escrever que a Geometria é um ramo privilegiado da Matemática por estar estreitamente ligada à realidade envolvente e à experiência dos alunos.  Será  (por direito próprio)?  Não temos o dever de “conceder” aos alunos, “neste virar de milénio”, o direito a uma alfabetização matemática que não passe, quase exclusivamente, pelo dominar de algoritmos, ao quase total controle do professor sobre o que é ensinado e não aprendido?

Passaram quase doze anos, existem Novos Programas de Matemática. O Geogebra veio colocar-se a par do Cabri e do Sketchpad, a Internet põe à disposição de professores e alunos recursos fabulosos. Creio todavia que este texto conserva alguma actualidade. 


Trabalho realizado por alunos com software dinâmico para estudo de pavimentações 

As condições de trabalho dos professores mudaram, não foram apenas o século, o milénio e até a década. Não creio que a Educação tenha mudado para melhor.
Lembro as alterações preconizadas por Paulo Abrantes.
Onde ficou o sonho de alguns?

domingo, 16 de janeiro de 2011

Antiquado

Em 1992, Teodoro, V. D., transcreveu o seguinte poema que se encontra publicado por Cuban (1986). Este inscreve-se nos estudos da época sobre Tecnologias e Educação.
Por fazer parte da história recente das TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação), aqui fica um extracto:
O Sr. Edison diz
Que a rádio substituirá o professor.
Já é possível aprender línguas
utilizando discos Victrola.
O filme permitirá visualizar
O que o rádio não consegue.
Os professores serão relegados para lá do sol - posto,
(...)
Ou, talvez, expostos em museus.
A educação tornar-se-á um processo
De premir um botão.
Talvez eu consiga um lugar
no painel de controlo.
Não acredito, nunca acreditei. Se o professor fosse totalmente substituído pela máquina (e certamente não foi isso que Cuban pretendeu) perder-se-ia a maior potencialidade da Educação: o contacto humano em contexto.
A introdução dos computadores na educação deve estar associada ao que se aprende e ao modo como se aprende. A sua influência deverá fazer-se sentir na organização de contextos e na mudança de interacção entre quem aprende e entre quem aprende e quem ensina (Coelho, 1996)
Uma experiência com que me deparei em 2005 foi ensinar TIC a um jovem do 3º Ciclo, com Necessidades Educativas Especiais muito profundas (tinha currículo alternativo, quase não lia nem escrevia, as suas aquisições eram muito básicas mas gostava muito de trabalhar em computador) que designarei por E.


Publico o guião de uma aula de TIC em que 
o objectivo era Reconhecer INTERIOR e EXTERIOR / DENTRO e FORA


Estratégia:
Abrir um ficheiro Novo do Word
Utilizar as Formas Automáticas das Ferramentas de Desenho:
            Formas elementares (para desenhar polígonos).
            Escrever dentro de cada polígono e fora, como no exemplo.
Gravar o ficheiro, dentro da sua pasta de trabalho. Continuar a fazer polígonos e ir gravando de vez em quando.
           
Pode, depois desenhar estrelas. Escrever o seu nome a azul, quando for no interior da estrela, e a roxo, quando estiver no exterior. Se quiser colorir a estrela, tem na Ordem de  passar Objecto para trás do Texto.

Inserir Clipart com palavra de Procura “Interior”
E. devia pesquisar Cliparts deste tipo
Inserir Clipart com palavra de Procura “Exterior”.




E. devia pesquisar Cliparts deste tipo




E. adquiriu noções de posicionamento que não dominava.
Sem o professor, unicamente com o computador, não teria sido possível.



quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Espero ...

Espero contar, não necessariamente por ordem cronológica, histórias que ocorreram ao longo dos anos em que fui professora. Desde 76 até me ter aposentado em 1 de Abril de 2010 (não foi mentira, não!).

Foi longa a caminhada.
Deliciosa e árdua (nos últimos anos, principalmente, desde que foi Ministra da Educação uma senhora apelidada de Maria de Lurdes Rodrigues, Professora Doutora, que protagonizou o período mais negro da Educação em Portugal, no pós 25 de Abril.
Mas espero não iniciar este blog com tristezas.

Espero também divulgar algumas experiências positivas, materiais que utilizei.

Que a minha experiência sirva para algo.

Dedico este blog a todos os alunos que tive (com quem era sempre agradável estar, quer nas aulas quer nas actividades extra-curriculares)

Campeonato Nacional de Jogos Matemáticos, Covilhã, Março de 2009

Dedico este blog à maioria dos meus colegas (eles sabem quais são),  com quem foi excelente trabalhar e que ficaram como amigos.


Isabel