terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Estudo Acompanhado em estado de coma


O Diário da República, 1.ª série — N.º 23 — 2 de Fevereiro de 2011 publicou o Decreto-Lei n.º 18/2011 que dita o estado de coma do Estudo Acompanhado.
O espírito orientador desta área curricular não disciplinar, criada quando da Reorganização Curricular do Ensino Básico (Decreto -Lei n.º 6/2001, de 18 de Janeiro) é, a meu ver, completamente adulterado pela actual legislação.

O D.L. 6/2001 estipulava no seu artigo 5º o papel das NAC´s (Novas Áreas Curriculares), designadamente o Estudo Acompanhado era a área que
visava a aquisição de competências que permitissem a apropriação pelos alunos de métodos de estudo e de trabalho e proporcionassem o desenvolvimento de atitudes e de capacidades que favorecessem uma cada vez maior autonomia na realização das aprendizagens.
 Para o próximo ano lectivo o estudo acompanhado destina-se aos alunos com efectivas necessidades de apoio, como se o estado da nossa educação (recentemente foi divulgado que 35% dos alunos já reprovaram pelo menos uma vez no Ensino Básico) não continue a apresentar a necessidade de uma efectiva melhoria dos métodos de estudo da grande maioria alunos.

Esta e outras medidas avulsas sobre o currículo estão / vão  destruir o que de positivo se fez em Educação nos últimos  anos.

A propósito consulte-se sobre o assunto o parecer da Associação de Professores de Matemática (APM).
 Muito se discutiu no início do milénio sobre o papel das NAC's. Foi no Conselho Nacional da APM, foi em diversos encontros, quer nacionais, quer regionais.

Recordo alguma reflexão publicada no APMinformação nº 57 , de Junho de 2001:
"As palavras são como as cerejas
(...) A escrita de um relatório, em laboratório de Matemática (possível também nos 2º e 3º ciclos, e porque não até no 1º?), contribuirá para o
desenvolvimento da expressão escrita, assim como o debate, em grande ou pequeno grupo, para a aceitação de opiniões diferentes e para o aperfeiçoamento da expressão oral. A exploração de alguns conteúdos permitirá contribuir para desenvolver o sentido crítico das crianças (pegar em folhetos de supermercado, trabalhar os arredondamentos e “desmontar” algumas técnicas de marketing será uma experiência de aprendizagem que ajudará a formar cidadãos mais conscientes).
Bem, “as palavras são como as cerejas”... Em demasia, podem fazer mal!
Esta Reorganização Curricular pretende (e pode)  provocar mudanças na Escola mas não tenhamos dúvida que só conduzirá ao sucesso, se as escolas contarem com os recursos humanos e materiais necessários à sua
implementação. Caso contrário, quedar-se-á por não ser mais que uma “Gestão Flexível dos Horários” e isso seria o pior que lhe poderia acontecer. Por isso, será preciso dar-lhe tempo para crescer, para reflectirmos e   
... para comer cerejas."

Sem comentários:

Enviar um comentário