A long time ago, ainda cá não estava o Ministro Ke-Rato, ou andava em coagitações de como destruir a inovação na escola pública, eu reflectia:
Em 31 de Março, realizou-se mais um Conselho Nacional da APM. É sempre uma oportunidade para revermos amigos, trocarmos ideias, reflectirmos...
A Reorganização Curricular era um dos pontos (fortes) da ordem da trabalhos.
Trabalhámos em pequeno grupo, discutimos, pusemos dúvidas, rascunhámos ideias ...
Fui esquematizando as opiniões que iam surgindo da nossa discussão.
No final, debate no grande grupo.
Outros pontos da ordem de trabalhos. Final da reunião. Regresso a casa.
Passado algum tempo, decidi melhorar o meu esboço. Sempre gostei de traduzir ideias por esquemas, antes de alinhavar texto! Entendo que os esquemas conceptuais ajudam o raciocínio e a posterior composição da escrita.
Nesse lectivo, funcionaram, experimentalmente, na minha escola, três grupos de Estudo Acompanhado, tendo eu feito parte de uma das equipas.
Como não podia deixar de ser, trabalhámos os esquemas (nas Ciências, na História, na Matemática).
E eis que estou, de novo, a remeter para uma das questões que abordámos no Conselho Nacional: “Que papel pode/deve ter a Matemática nestas novas áreas (curriculares não disciplinares)?” A Matemática, assim, como todas as outras disciplinas, devem acompanhar o “programa” das NAC (Novas Áreas Curriculares) definido no Projecto Curricular de Escola e concretizado, posteriormente, no Projecto Curricular de Turma. As equipas coordenadoras das NAC e os professores das disciplinas procurarão desenvolver, em conjunto, as competências transversais, seleccionando estratégias, preparando materiais, calendarizando actividades, avaliando o resultado da sua actuação conjunta.
Igualmente - e “as palavras são como as cerejas” (e se aqui as há boas, nesta zona do Fundão e da Serra da Gardunha!) - já estou a apontar para outra das questões orientadoras do debate no Conselho Nacional: “Projecto Educativo / Projecto Curricular de Escola / Projecto Curricular de Turma - Como articular?” O Projecto Curricular de Turma tem de ser uma individualização do Projecto Curricular de Escola, adaptado às características de cada turma. Será redundante, creio, afirmar a necessidade de conhecer pormenorizadamente cada turma, uma vez que, tem sido habitual, nestas andanças sobre a Reorganização Curricular, defender a importância nuclear dos Conselhos de Turma para o desenvolvimento deste processo.
E, como se elabora o Projecto Curricular de Escola?
Sendo um projecto terá de contemplar objectivos, estratégias, avaliação. Os seus objectivos deverão ser definidos a partir dos do Currículo Nacional (que não se sabe ainda muito bem quais são mas que, com boa vontade, podemos inferir do Perfil do Aluno, das Competências Transversais e das Competências Essenciais (afinal, o que é a autonomia?)) conjugados com os do Projecto Educativo. Será, então, possível “valorizar” competências relacionadas com as metas do Projecto Educativo e escolher as componentes locais do currículo, decidir sobre a oferta curricular da escola, as disciplinas que deverão preferencialmente integrar as Novas Áreas Integradoras (ou Curriculares), os projectos a desenvolver na Área de Projecto...
Tem-se ouvido falar muito das NAC, tem-se discutido muito sobre a distribuição da carga horária pelas diferentes disciplinas. Poderá, até, parecer que a Reorganização Curricular dependerá, quase exclusivamente, destes factores, dos blocos e dos meios blocos, dos noventa ou dos quarenta e cinco minutos. No entanto, sem descurar aqueles aspectos, ela deverá ser bem mais profunda. As disciplinas terão, por exemplo, de analisar o respectivo contributo para as competências gerais e transversais.
A escrita de um relatório, em laboratório de Matemática (possível nos 2º e 3º ciclos, e porque não até no 1º?), contribuirá para o desenvolvimento da expressão escrita, assim como o debate, em grande ou pequeno grupo, para a aceitaçã de opiniões diferentes e para o aperfeiçoamento de expressão oral
A exploração de alguns conteúdos permitirá contribuir para desenvolver o sentido crítico das crianças (pegar em folhetos de supermercado, trabalhar os arredondamentos e “desmontar” algumas técnicas de marketing será uma experiência de aprendizagem que ajudará a formar cidadãos mais conscientes).
Bem, “as palavras são como as cerejas”... Em demasia, podem fazer mal!
Esta Reorganização Curricular pretende (e pode) provocar mudanças na Escola mas não tenhamos dúvida que só conduzirá ao sucesso, se as escolas contarem com os recursos humanos e materiais necessários à sua implementação. Caso contrário, quedar-se-á por não ser mais que uma “Gestão Flexível dos Horários” e isso seria o pior que lhe poderia acontecer. Por isso, será preciso dar-lhe tempo para crescer, para reflectirmos e
... para comer cerejas.
O Ke-Rato tem, e sempre teve um ódio, abismal a toda a esta ideologia de educação. Publicou os piores programas de Matemática de que há memória. è preciso um gato para este Crrrato.
Em memória do meu querido Paulo Abrantes que tanto lutou pela Educação Matemática.